terça-feira, 15 de novembro de 2011
sábado, 5 de novembro de 2011
Esse vai ser sem título, mas é pra Ju e pra Lu bf que pediram *-*
Nós estávamos caminhando em um caminho entre dois campos floridos, um caminho reto, sem fim, que ia além do horizonte. Só nós dois. Eu e ele. O amor da minha vida, a razão de eu sorrir e viver. Estávamos felizes, de mãos dadas. Ele se declarava pra mim, parava constantemente pra beijar minha bochecha e verificar se eu estava bem. De repente, quando menos espero, vejo uma silhueta escura logo a minha frente. Olhei para ele, verificando se ele também a havia visto, e pelo seu espanto, sim. Quando consegui visualizá-la direito, logo a reconheci: era a garota que durante muito tempo eu tinha considerado minha irmã, e acabou me apunhalando. E o pior, não foi pelas costas não, foi no meio da minha cara idiota.
- O que você quer? - eu perguntei logo, sem hesitar.
- Ele. - ela respondeu, apontando para minha vida, meu namorado. Quando eu a olhei com cara de quem não estava entendendo nada, ela soltou sua gargalhada estúpida e nojenta. - Deixe-me explicar, porque você é uma lerda e logicamente não sacou. Esse caminho aqui - ela apontou pro chão - é o caminho da vida dele. Então, eu estou no meio do caminho, e você - apontou pra ele - vai ter que escolher, meu amor. Ou eu, ou ela.
Ele me olhou com uma expressão de quem não estava entendendo nada, e ela continuou falando:
- Eu sei que você me quer, então eu sei que você vai me escolher porque você me ama.
Nessa hora, senti uma dor dilacerar meu peito, como se tivessem várias facas me cortando em vários ângulos diferentes só no meu coração.
-NÃO, NUNCA! - me virei para ele - Ei, gatinho, eu te amo, ela nunca, nunca vai te amar, ela não tem capacidade pra amar ninguém, ela só ama a si mesma!
Nesse momento, o céu escureceu, de uma hora pra outra, dando um ar mais pesado ainda e entrando no clima do momento.
- Por que você diz isso? Porque eu nunca amei você do jeito que você me amava, nunca dei meu sangue por você do jeito que você dava né, irmãzinha? - ela se virou pra ele - Vem logo e para de ficar do lado dela, essa menina parece uma gelatina, chega a ser nojenta, e eu não. - ela sorriu - Eu sou tudo o que você quiser que eu seja.
- Para, para com isso agora! Você não tem o mínimo direito de falar com ele.
- Ah, tenho sim, ele é meu. Sempre foi, e sempre será.
-NUNCA!
Naquele ponto, eu já estava chorando desesperadamente, e começou a desabar sobre nós a chuva pesada que estava pairando sobre nossas cabeças. A chuva me molhava, molhava o amor de minha vida, mas tinha alguma coisa estranha naquela garota. Uma fumaça ao seu redor meio que lhe protegia da chuva, lhe deixando seca e intacta. Ele, magicamente, saiu do meu lado e ficou no meio de nós duas, que estávamos uma de frente para a outra, nos encarando. Eu, com o olhar mais doloroso do mundo e cheio de lágrimas, e ela com seu olhar estúpido e metido.
Ele foi andando bem devagarzinho em direção a ela, enquanto eu gritava, ajoelhada na lama, negações.
- Venha - ela dizia -, eu sei que você vai me escolher.
- EI, não! - eu gritava, berrava. - Não, não, não, ei vida, gatinho, amor, ahhh, não faz isso por favor! Eu te amo demais, te amo mais que tudo, mais que o sol ama iluminar a terra todos os dias, eu preciso de você mais do que preciso do ar pra respirar, ahhhhhhhhhhhhh... - eu não conseguia mais dizer nada.
- Hmmm - ela falou enquanto ele chegava na sua frente. Ela pegou suas mãos e colocou em sua bochecha, como se fosse para ele senti-la.
- Ei - eu gritei para ele. Ele não me olhou, mas eu sabia que ele estava ouvindo. - Eu te amo, e você sabe disso. Não precisa eu ficar que nem uma boba falando de cinco em cinco segundos. Se você ficar com ela, você sabe que meu mundo acaba, e a única coisa que eu saberei sentir daqui em diante será dor. E outra, eu serei seu primeiro pensamento ao acordar e o último antes de dormir. Não, eu serei seu único pensamento, porque você sempre vai lembrar da dor insuportável que você está me causando agora.
Neste exato momento, ele tirou a mão daquela garota de seu rosto com toda a repulsa do mundo, caminhou até mim e disse:
- Gatinha, levanta do chão agora e para com isso. Porque eu também te amo, você também sabe disso, e eu nunca vou te deixar, seja qual for a circunstancia.
Ele me levantou do chão, e eu o abracei com toda a força possível, e ali, naquele momento, vimos o quanto nós eramos importantes um para o outro.
- O que você quer? - eu perguntei logo, sem hesitar.
- Ele. - ela respondeu, apontando para minha vida, meu namorado. Quando eu a olhei com cara de quem não estava entendendo nada, ela soltou sua gargalhada estúpida e nojenta. - Deixe-me explicar, porque você é uma lerda e logicamente não sacou. Esse caminho aqui - ela apontou pro chão - é o caminho da vida dele. Então, eu estou no meio do caminho, e você - apontou pra ele - vai ter que escolher, meu amor. Ou eu, ou ela.
Ele me olhou com uma expressão de quem não estava entendendo nada, e ela continuou falando:
- Eu sei que você me quer, então eu sei que você vai me escolher porque você me ama.
Nessa hora, senti uma dor dilacerar meu peito, como se tivessem várias facas me cortando em vários ângulos diferentes só no meu coração.
-NÃO, NUNCA! - me virei para ele - Ei, gatinho, eu te amo, ela nunca, nunca vai te amar, ela não tem capacidade pra amar ninguém, ela só ama a si mesma!
Nesse momento, o céu escureceu, de uma hora pra outra, dando um ar mais pesado ainda e entrando no clima do momento.
- Por que você diz isso? Porque eu nunca amei você do jeito que você me amava, nunca dei meu sangue por você do jeito que você dava né, irmãzinha? - ela se virou pra ele - Vem logo e para de ficar do lado dela, essa menina parece uma gelatina, chega a ser nojenta, e eu não. - ela sorriu - Eu sou tudo o que você quiser que eu seja.
- Para, para com isso agora! Você não tem o mínimo direito de falar com ele.
- Ah, tenho sim, ele é meu. Sempre foi, e sempre será.
-NUNCA!
Naquele ponto, eu já estava chorando desesperadamente, e começou a desabar sobre nós a chuva pesada que estava pairando sobre nossas cabeças. A chuva me molhava, molhava o amor de minha vida, mas tinha alguma coisa estranha naquela garota. Uma fumaça ao seu redor meio que lhe protegia da chuva, lhe deixando seca e intacta. Ele, magicamente, saiu do meu lado e ficou no meio de nós duas, que estávamos uma de frente para a outra, nos encarando. Eu, com o olhar mais doloroso do mundo e cheio de lágrimas, e ela com seu olhar estúpido e metido.
Ele foi andando bem devagarzinho em direção a ela, enquanto eu gritava, ajoelhada na lama, negações.
- Venha - ela dizia -, eu sei que você vai me escolher.
- EI, não! - eu gritava, berrava. - Não, não, não, ei vida, gatinho, amor, ahhh, não faz isso por favor! Eu te amo demais, te amo mais que tudo, mais que o sol ama iluminar a terra todos os dias, eu preciso de você mais do que preciso do ar pra respirar, ahhhhhhhhhhhhh... - eu não conseguia mais dizer nada.
- Hmmm - ela falou enquanto ele chegava na sua frente. Ela pegou suas mãos e colocou em sua bochecha, como se fosse para ele senti-la.
- Ei - eu gritei para ele. Ele não me olhou, mas eu sabia que ele estava ouvindo. - Eu te amo, e você sabe disso. Não precisa eu ficar que nem uma boba falando de cinco em cinco segundos. Se você ficar com ela, você sabe que meu mundo acaba, e a única coisa que eu saberei sentir daqui em diante será dor. E outra, eu serei seu primeiro pensamento ao acordar e o último antes de dormir. Não, eu serei seu único pensamento, porque você sempre vai lembrar da dor insuportável que você está me causando agora.
Neste exato momento, ele tirou a mão daquela garota de seu rosto com toda a repulsa do mundo, caminhou até mim e disse:
- Gatinha, levanta do chão agora e para com isso. Porque eu também te amo, você também sabe disso, e eu nunca vou te deixar, seja qual for a circunstancia.
Ele me levantou do chão, e eu o abracei com toda a força possível, e ali, naquele momento, vimos o quanto nós eramos importantes um para o outro.
quinta-feira, 28 de julho de 2011
ódio, amor. sempre de mãos dadas.
Sinto um aperto enorme no meu coração toda vez que vejo uma foto sua. Eu sei que ainda te amo, e isso dói tanto! Tenho vontade de chegar, olhar nos teus olhos e dizer tudo isso que está engasgado aqui. Mas pra quê? Pra você dar de ombros e dizer que um dia vai ficar tudo bem? Pra você rir de mim, como sempre faz? Pra você dizer que me ama e me iludir com mentiras de novo, de novo e de novo? Não. Se for pra ser assim, prefiro ficar calada e engasgada. Eu te odeio. Eu te amo. Eu não sei o que sinto em relação a você. Só sei que é uma coisa tão forte, que eu chego a me contorcer de dor se penso em você demais! Eu quero esquecer, mas não consigo. Me sinto tão inutil, sabia? Não pelo fato de não conseguir te esquecer. Mas eu não consegui conquistar você. Não consegui fazer você olhar pra mim como eu olho pra você. Não consegui nem um 'eu te amo, tani' sincero. E não venha me dizer que os que você me disse foram sinceros, porque eu sei que é mentira! Você já conseguiu o que queria comigo. Já me usou, já me humilhou... Agora, porque fica perguntando por mim pras minhas amigas? Pra quê? O que mais você quer? Meu coração? Minha alma? Você já os tem! Eles já são seus, a partir do momento em que você disse 'oi' pra mim. A partir do momento que olhei em seus olhos, a partir da hora que você tocou minha bochecha, que ficava rosada a cada sorriso que você dirigia a mim. Eu era tão ingênua! Não posso dizer que também não errei com você, porque sei que errei. E já te pedi desculpas. Sei que você já pediu desculpas pra mim também. Mas um pedido de desculpas, tem que vir do fundo do coração. Eis a questão: você teria mesmo um coração? E se você tiver um coração, aposto que é de pedra, não de gelatina, igual o meu.
Você me machucou tanto... Mas eu ainda amo você. Isso é tão frustrante!
Te amo, te amo, te amo. Sei que isso ainda não basta pra você, mas tudo bem.
Não preciso dizer pra quem é. Você sabe que é pra você.
-up-
Você me machucou tanto... Mas eu ainda amo você. Isso é tão frustrante!
Te amo, te amo, te amo. Sei que isso ainda não basta pra você, mas tudo bem.
Não preciso dizer pra quem é. Você sabe que é pra você.
-up-
segunda-feira, 25 de julho de 2011
sou tudo. sou nada. apenas sou eu.
Eu não sei ao certo o que seria minha vida. Às vezes parece um conto de fadas, às vezes parece um filme de terror que nunca acaba. Às vezes pareço uma adolescente rebelde que quer acabar com a vida de todo mundo. Às vezes pareço uma nerd fofa, que não quer confusões e é a mais amada da família. Mas sempre, sempre eu sou do contra. Eu nunca estou no exato perfil que todos querem. Eu nunca sento certo, eu nunca faço nada certo, tudo é culpa minha, se uma bomba cair do céu, fui eu. Mas eu não me importo. Quem disse que eu vou mudar por causa deles? Quem disse que eu vou sentar certinho, falar baixinho e brincar com meu primo de 10 anos só porque eles querem? Todos disseram. Mas eu não vou fazer. Se um dia eu fizer alguma coisa, é porque EU quero, não porque me mandaram fazer. E eles pensam que só porque sou assim, diferente, eu não posso amar, não posso ter sentimentos. Ai por isso eles jogam as coisas na minha cara. Muito bem. Palmas pra eles. Eu me ferro aqui, sozinha com meus sentimentos. Com meu coração quebrado. Que aliás, não é só minha família que o quebra.
Ah, o amor! O doce momento da adolescência. Doce? Só se for pra você. Pra mim, dói. E isso já resultou em ódio, em vontade de matá-lo, em vontade de me matar. É isso que dá, você se apaixonar por uma pessoa que só fica com você pra te humilhar. Ele pediu perdão. Ele disse que tava com saudade. Não sei o que faço. Um lado meu o ama, o outro quer que ele morra com a maior dor possível. Mas eu não sei ao certo, se o amo, se o odeio. Não sei se o perdoo. Não sei se digo "eu te amo" mais uma vez. Eu sei que não seria racional fazê-lo, mas desde quando eu sigo padrões? Desde nunca.
Acho que preciso de ajuda. Acho que não. Eu não sei ao certo, já disse isso. Essa sou eu. Essa é minha vida. Essas são minhas dores. E isso só muda quando o tempo passar.
Ah, o amor! O doce momento da adolescência. Doce? Só se for pra você. Pra mim, dói. E isso já resultou em ódio, em vontade de matá-lo, em vontade de me matar. É isso que dá, você se apaixonar por uma pessoa que só fica com você pra te humilhar. Ele pediu perdão. Ele disse que tava com saudade. Não sei o que faço. Um lado meu o ama, o outro quer que ele morra com a maior dor possível. Mas eu não sei ao certo, se o amo, se o odeio. Não sei se o perdoo. Não sei se digo "eu te amo" mais uma vez. Eu sei que não seria racional fazê-lo, mas desde quando eu sigo padrões? Desde nunca.
Acho que preciso de ajuda. Acho que não. Eu não sei ao certo, já disse isso. Essa sou eu. Essa é minha vida. Essas são minhas dores. E isso só muda quando o tempo passar.
domingo, 24 de abril de 2011
Odiar ou amar. Amar ou morrer.
Eu estava deitada em minha cama. Aquele estado me deixava demasiado irritada. Eu tossia feito o cão, me sentia fraca, muito frágil. Parecia que minha cabeça ia explodir dali à dez minutos. Avistei a governanta entrando em meu quarto, trazendo com sigo, uma bandeija com chá.
- Sra. Lees, você poderia ficar aqui comigo por um instante? - eu disse, em meio a várias tosses. - Me sinto tão só!
- Claro, Sra. Benton – ela sentou-se do meu lado.
- Missie, você já ouviu minha história? - ela respondeu que não, então eu disse-lhe: - Ah, como eu gostaria de repeti-la para você! Gosto tanto de poder lembrar do jeito que conheci Randall... meu Randall, antes de morrer. Pois acho que irei morrer no estado em que estou. Olhe só para mim!
- Vou confessar-lhe, senhora, que sempre tive demasiada curiosidade de conhecer sua história de amor com o Sr. Benton. Eu só tenho conhecimento de que os senhores vieram da França ocidental... Vocês sempre comentavam sobre isso.
- Sim, claro! - eu sorri, fraquinho, com as forças que ainda me restavam. - Eu contarei-a para você, então.
Me ajeitei debaixo de meus cobertores, sorri e comecei:
“Lembro-me de que eu era muito jovem. Uma criança ainda. A criança mais feliz e mais mimada daquele lado da França. De toda a França, se não duvidar. Eu estava de mãos dadas com meu pai, pulando e gritando. Era verão, e meus cachos louros brilhavam com o sol que vinha de trás dos morros. Foi quando avistei-o. Um menino, de mesma idade que eu, que tinha sete anos, caminhava com uma jovem senhora. Não achei que fosse sua mãe, e sim uma criada, pois ele tinha cabelos louros. Não eram tão bonitos quanto os meus, eram de um tom mais claro. E a mulher que se encontrava com ele tinha os cabelos de um tom castanho. Sorri e acenei para o garoto: ele podia virar meu amigo. Mas assim que avistou tal atitude, meu pai me puchou pelo punho, voltando pelo caminho que nós haviamos vindo.
Passei a viagem inteira para minha casa, gritando com meu pai e perguntando por que ele tinha feito aquilo. Seus grandes olhos verdes se esbugalharam para mim, e eu não ousei perguntar de novo.
Quando chegamos em casa, corri para a biblioteca, atrás de minha mãe que estava sentada em sua grande poltrona. Assim que me avistou, mamãe largou seu livro e me pegou em seu colo.
- Mamãe, eu e papai estávamos caminhando perto daqueles morros, quando eu avistei um menino. Fiquei surpresa com sua existência, pois moramos em um lugar tão isolado, pensei que tudo fosse de papai, até os morros! Então, surpresa, sorri e acenei para ele. Mas logo papai me censurou e tirou-me correndo dali. Com tal atitude, pensei que papai estava ficando louco!
Mamãe semisserrou seus grandes olhos azuis – meus olhos -, e disse-me:
- Meu amor, seu pai, sem sombra de dúvidas tinha motivos para tal atitude. Acalme-se, irei explicar-lhe – ela disse quando minha expressão ficou cheia de confusão. - Aquele menino é de uma família muito ruim, que odeia seu pai, a mim, e naturalmente a você. Então, você é obrigada a odiar-lhes também, assim como eles lhe odeiam.
- Mas mamãe, o garoto pareceu ficar tão espantado quanto eu ao vê-lo! - eu disse, insitindo.
- Meu amor, não se estresse com isso! Vá ler seus livros, conversar com seu pai... Mas não estresse-o com essa conversa desse menino.
Fui decepcionada sentar-me com Bobby, o cão da casa. Acariciei-o, refletindo sobre o garoto. Fui deitar-me, e desde esse dia, papai não me permitiu ir para perto dos morros. Anos se passaram. Sim, por anos papai não me deixou ir àqueles morros! Tudo por causa do menino de cachos dourados. Mas, mesmo assim, o menino não saía de minha mente.
Houve enfim, um dia, que meu pai havia saido para cuidar de negócios, enquanto minha mãe estava de cama, pois ela havia contraído uma doença muito rara. Então, chamei a criada para me acompanhar até o lugar. Eu já tinha doze anos, estava passando de criança feliz e mimada para adolescente feliz, mimada e rebelde.
- Vamos, vamos Zillah! - chamei a criada para ir para perto dos morros.
- Mas Srta. Cathy, seu pai disse-nos...
- Ah, papai está viajando a negócios desde ontem e só chegará amanhã, mamãe está de cama, ninguém vai descobrir se você não contar! E se você contar, direi que é mentira. Papai nunca duvidará de mim.
Zillah suspirou mais uma vez, e puxei-a em direção aos morros. Andamos as 4 milhas necessárias para chegar, até que lembrei-me do lugar em que eu e papai paramos. Era exatamente onde estávamos.
Subi na árvore que havia do nosso lado e Zillah sentou-se debaixo da sombra da árvore. Colhi umas amoras que estavam em meu alcance, mas sempre tomando cuidado para não sujar meu vestido caramelo-claro.
Eu avistei um menino, muito parecido com o garoto de minhas lembranças, só que mais alto, mais robusto, e mas bonito. Avistei também a mesma criada que havia visto cinco anos atrás. Sim, eu tinha memória de elefante! Desci rapidamente da árvore, com demasiada curiosidade para ficar esperando ele me avistar lá. Assim que desci, vi os olhos dele brilharem ao me ver. Não me incomodou a cobiça de seus olhos – eu sabia que era bonita, e sabia que todos os homens a partir de uma certa idade cobiçariam-me. 'Talvez por isso papai tenha me tirado de perto dele.', pensei. Mas agora não tinha volta. Eu já havia o visto, ele também. Era só questão de tempo para virarmos amigos, pois só existíamos nós dois com aquela idade ali. Na verdade, achava que existia só a minha família e a dele naquela região isolada da França.
Acenei para o menino, que acenou de volta. Ele correu até mim, beijou minha mão, como um bom cavalheiro faria e disse que era uma honra conhecer-me, mesmo não sabendo meu nome.
- Catherine Brontë, é meu nome. Tenho muita vontade de tomar conhecimento de qual seja seu nome também.
- Randall Benton. - ele sorriu. Era o sorriso mais lindo com covinhas que eu já havia visto. Depois do meu, é claro. - Desculpe-me a indelicadeza, mas ninca vi garota mais bonita. Pareces um lindo anjo de olhos azuis feito os céus, de onde deves ter vindo e de cabelo de cor de ouro!
Eu ri, meu delicado sonar de sinos. Claro que havia gostado de Randall, ele me chamara de lindo anjo dos céus.
- Bom, Randall, tu pareces cansado, então o que tu achas de ir até minha casa e tomar um chá, enquanto conversamos de frente para minha lareira?
- Oh, Catherine, eu bem que gostaria de...
- Por favor, por favor, chame-me de Cathy! Ah, eu não aceito não como resposta de ninguém. Então venhas, tu e a tua criada.
Puxei-o pelo braço, fazendo Randall se render diante de tanto esperneio para ele ir até a granja de meu pai. Quando chegamos lá, o fiz sentar-se de frente para a lareira enquando eu mandava Zillah preparar o chá. Emillie, a criada de Randall foi junto de Zillah. Assim, ficamos sozinhos, conversando e rindo. Nós dois estávamos muito surpresos por descobrir a existência um do outro. Enquanto ríamos do fato de nunca termos nos descoberto ali, a porta de entrada se abriu. Era meu pai. Eu sorri para ele, com minha xícara de chá, mostrando para ele como eu podia receber visitas sem parecer uma criança. E então, tomei um susto com a seguinte reação de meu pai: primeiro ele ficou paralisado. Randall se apresentou, comportando-se como um bom cavalheiro novamente, explicou o que havia acontecido e disse que não queria incomodar. Depois, papai arregalou os olhos e gritou para que o 'maldito menino' saísse de nossa casa naquele instante, junto de seu 'maldito nome'. Não tinha entendido o porque do nome de Randall ser maldito, mas papai continuou gritando e Randall pedia desculpas desesperadamente, dizendo que não queria incomodar, repetidas vezes. Randall gritou por Emillie, e eles se retiraram de minha casa. Quando papai bateu a porta com toda a força, eu berrei, com toda a potência que tinha dentro de mim. E depois, desatei-me a chorar e bater os pés no chão, desesperada. Papai ficou desesperado também, e veio me confortar, mas eu só fazia bater nele e dizer para ele sai já dali. Subi para o quarto que mamãe estava. Eu não me preocupava em acordar ela, até porque ela já devia ter acordado com toda aquela gritaria. Quando cheguei até meu destino, mamãe parecia convulsionar, revirando os olhos e se curvando sobre si mesma, sobre a enorme barriga que ela tinha. Ainda tomada de orgulho e agora de desespero (depois de mim mesma, mamãe era a pessoa que eu mais amava no mundo), chamei Zillah, não querendo chamar papai, pois ainda estava demasiado magoada com ele. Mas ele veio junto quando eu disse que se tratava de mamãe. Ele gritou para Zillah mandar chamar o médico. Por Deus, será que aquele homem só sabia gritar?! Depois de um tempo, o médico havia chegado, e então mandou-nos sair do quarto. Eu vi que papai precisava de consolo, pois ele era perdidamente apaixonado por mamãe. Ele que fosse com suas necessidades de consolo para bem longe de mim! Quem precisava de consolo de verdade ali era eu. Por isso, corri para o colo de Zillah e fui chorar lá. Passaram-se horas, e então nós vimos o Dr. Gerandy descer as escadas com um rolinho de cobertor marrom em seus braços. Bom, mamãe havia separado dois: marrom se fosse menino, vermelho se fosse uma menina. Então era um menino, afinal! Então o médico disse que mamãe havia morrido. Todos pomos-nos a chorar e lamentar, mas logo voamos para cima de meu irmãozinho, e então papai clamou:
- Ah, o meu pequenino Bartolomeu!
- Bartolo o quê? - eu disse, atrevida. Havia detestado o nome. Na verdade, se ele escolhesse o nome mais lindo que já havia existido, eu ia achar horrível. Quando estava brigada com alguém, punha-me a discordar de tudo o que fosse a favor daquela pessoa.
- Bartolomeu, minha princesa. O nome dele será Bartolomeu Brontë.
- Não será, não. Se eu sou uma princesa, meu irmão tem de ser um príncipe. E para ser príncipe de verdade, ele tem de ter um nome de príncipe. Bartolo-Não-Sei-O-Quê tá mais pra nome de cachorro! Além do mais, mamãe odiaria esse tal nome, e amaria o nome que eu escolhi. Por isso, o nome de meu príncipe será Elwin. Elwin Brontë.
Ninguém mais discutiu. Eu sempre dava a última palavra naquela casa.
Naquela mesma noite, eu e papai nos reconciliamos depois de colocar Elwin na cama e ido nos despedir de mamãe. Eu perguntei para ele o que ele tinha contra Randall, se Randall era tão bom cavalheiro. E então ele me respondeu:
- Minha flor, há muitos anos atrás, antes de você nascer... Bem, antes de eu nascer até, meu pai ficou viciado em jogo. Sim, ele era um beberrão, jogava e apostava todos os seus bens. Houve um dia que ele apostou várias de suas terras. Mamãe já era casada com ele, e ele era dono de tudo isso – papai abriu a janela para mim, e apontou para os morros -, mas ele apostou e o pai do pai de Randall, que se dizia amigo de meu pai, ganhou uma de nossas granjas e mais de cinquenta por cento das nossas terras. Era para isso tudo ser meu, seu, de Elwin! Mas por culpa de Michael Benton, eu só tenho essa granja. Foi só isso que sobrou para mim.
- Mas papai, Randall nada tem com isso! Ele é tão bom, me elogia...
- Mas eu não quero que você fique perto de um garoto com nome de traidor! - e o ódio de papai era tanto, que eu não discuti mais.
No dia seguinte, foi o funeral de minha mãe. Eu não fui. Fiquei em casa, cuidando de meu pequeno príncipe Elwin. Cuidando de Elwin, e chorando.
Os anos foram se passando, Elwin crescendo, eu crescendo, papai envelhecendo, Randall crescendo e se tornando o rapaz mais lindo que eu já havia visto. Sim, eu continuei a vê-lo as escondidas, me encontrava com ele, mandava o rapaz que entregava leite entregar cartas para ele, ele as respondia... E foi assim que fui me apaixonando por Randall. Ele pegava na minha mão, dizia para mim que eu era linda e que ele era a pessoa mais feliz do mundo por me ter com ele.
Houve um dia em que papai descobriu que nós nos encontrávamos. Zillah, aquela bocuda, deixou escapar que o rapaz estava crescendo e ficando bonito, que era uma honra vê-loquase todos os dias na frente de papai. Papai perguntou-me se esse rapaz era Randall, eu tentei desmentir, mas papai ameaçou Zillah de mandá-la embora, então a mulher falou que era Randall. Desde esse dia ficou mais difícil encontrar minha vida, meu mundo.
- Você sabe o que está fazendo comigo? Sabe? - eu gritei para meu pai quando ele disse que ia me trancar em meu quarto para sempre.
- Sim, Catherine, estou prevenindo-a de casar-se com esse traidor!
- Ele não é traidor! Se seu pai idiota era um beberrão viciado em jogo, o problema não é meu, nem de Randall! Vá para o Diabo com esse seu ódio desnecessário.
- Agora sim, você nunca, nunca mais sairá daquele quarto!
Enquanto discutíamos, Elwin chorava no colo de Zillah. Ele ainda era um bebê de dois anos. Os gritos o incomodavam. E eu não ligava para isso.
- CALE A BOCA, ELWIN! - eu sentia que estava vermelha feito um tomate. Minha pele branquinha não podia se deixar levar por nenhum estresse, nenhuma lágrima que já ficava da cor de um morango. - Eu irei sair sim! Eu não suportarei viver sem Randall, ele é minha vida, minha alma! Ele que me faz respirar, ele que me faz aguentar viver, sem ele eu não vou conseguir aguentar viver um dia, uma hora sequer! Ele me adora, ele beija o chão que eu piso, e eu gosto disso. O amor que você sentia, sente por minha mãe, nada é comparado ao que eu sinto por Randall. Se o mundo acabasse, se você e Elwin morressem mas ele continuasse aqui comigo, eu seria a garota mais feliz do mundo! Se você quer que eu viva, deixe-me ir com Randall, eu juro que nunca mais atormentarei sua vida, você nunca mais me verá, mas deixe-me ir com Randall. - eu falava aquilo, porque Randall havia falado na possibilidade de eu fugir com ele, de nos casarmos bem longe dali... Era o verdadeiro paraíso.
Os olhos de meu pai se encheram de lágrimas.
- Você é só uma menina, você só tem quatorze anos Cathy! Você ainda é a minha princesinha!
- Não, não sou não. Eu quero ser independente, quero casar-me com Randall, quero ser Catherine Benton!
Quando eu disse isso, meu pai bateu-me na face, e eu gritei e chorei como um bebê. Corri para meu quarto, me tranquei. Eu não fugiria àquela noite, afinal. Mas um dia eu fugiria. E seria feliz, de verdade.
Chorei, chorei, até que dormi. Nos dias que se passaram, ficou mais difícil de ver meu Randall, pois a segurança de meu pai havia aumentado. Eu poderia pular a janela e escalar até o chão, mas nunca arriscaria meus lindos vestidos e meu lindo penteado para descer até lá.
Minha vida estava um verdadeiro inferno! Eu só conseguia ver Randall quando ele conseguia fugir para me ver, de madrugada, pois a segurança de seus pais em relação a ele havia aumentado também. Como eu queria mamãe aqui, ela saberia como me ajudar. Mamãe sempre me ajudava! Por que ela se foi? Mulher egoísta! Por que motivo ela se foi, no momento em que eu mais precisaria dela? Ela estava em paz lá, enquanto eu sofria aqui! Era para ela ter lutado e ficado, mesmo com toda a dor do mundo. Ela deveria ter ficado para cuidar de mim. Meu pai agora me odiava, já que eu planejava fugir com Randall.
No meu aniversário de quinze anos, chorei com saudades de minha mãe. Randall veio me ver. Perguntou se eu fugiria com ele. Mordi o lábio. Eu não sabia o que fazer!
- Mas, Randall... o meu vestido! - eu disse, quando estava prestes a descer de minha janela.
- Calma, meu amor, eu ajudo você.
Randall me ajudou a descer da janela e a subir no cavalo. Eram cinco da manhã do dia do meu aniversário. Era maio, e fazia frio, então peguei um casaco branco, para combinar com meu vestido e meu chapéu. Cavalgamos durante muito tempo, e eu estava começando a ficar cansada. Randall me pedia para ter calma. Houve uma hora em que não aguentei mais, e que paramos no meio do nada, em uma estradinha de terra que cortava a floresta pela qual nós viajávamos. Enquanto estava andando de um lado para o outro, perguntando para Randall se eu estava bonita, preocupada com minha aparência, ouvi cavalgados. Eles aumentavam, e então comecei a ficar com medo. Randall tirou de algum lugar uma espécie de arma pontuda e ficou apontando para o lugar de onde o som parecia sair. Ouvi um rinchar de cavalo, e logo o reconheci. Era o rinchar do cavalo de papai.
- Randall...! - foi só o que consegui gritar.
- Devolva-a! Devolva Cathy a mim! - papai gritava, apontando uma espingarda para minha vida. Para Randall.
- Não! - eu gritei. - Eu quero ir com ele. Eu vou com ele! - papai apontou com mais precisão a espingarda para Randall, que estava bufando, paralisado ao meu lado. - Não mate-o, não machuque-o! Se você machucá-lo, papai, você estará machucando a mim! Se você matá-lo, você estará matando a mim! Não deu para perceber que eu vivo por ele? Ele é meu, e ninguém pode tirar a vida de nada meu!
Papai parou, as lágrimas escorrendo por seu rosto. Eu podia sentir que eu também chorava. Randall apertou minha mão, e vendo tal movimento, papai atirou. Quando vi que ele ia atirar, joguei Randall no chão, e me joguei em cima dele. Eu não ia ficar parada ali para receber um tiro. Eu não ia morrer. Não sem Randall. Se eu morresse, seria com ele. Se eu vivesse, ia ser junto dele. O tiro atingiu o cavalo de Randall, e o animal praticamente gritou de dor, e saiu correndo para algum lugar por aí. Meu pai suspirou. Eu me levantei, furiosa e cuspi as palavras na cara dele:
- Eu o odeio! Você ia matá-lo! Você ia matar a mim! Assassino! Eu o odeio! Aaargh! Que você morra, que você morra!
Papai abaixou a cabeça, e trotou pelo caminho que ele tinha vindo, voltando para minha antiga casa. Comecei a chorar. Por que eu não podia ter os dois ao mesmo tempo? Randall e meu pai? Mas se era para escolher, eu escolhia Randall.
Nós conseguimos uma charrete para transportar-nos. Perguntei para Randall para onde íamos, e ele me disse que seu pai tinha uma casinha do outro lado da França. Perguntei para ele se tinha dinheiro o suficiente para nós dois, e ele desatou o nó de uma das suas sacolas para eu poder ver. Viajamos durante três dias, e finalmente chegamos. Era uma casinha linda. Com dois quartos, uma sala, uma cozinha. Mas era linda. Já tinha uma criada na casa. Você, Missie Lees. Randall pensara em tudo. Bem, o resto você já sabe. Nós vivemos felizes aqui durante anos. Acho que eu não posso ter filhos, mas nem com isso, Randall me deixou. Randall, depois de um tempo, pegou aquela febre estranha, e morreu... Foi quando eu perdi meu chão, e essa tal de depressão me pegou...”
Eu ri, diante da ironia de quando ele morresse, eu morreria junto. Eu tinha morrido. Por dentro. E estava morrendo fisicamente agora. Tossi, e tossi. Me sentia sendo arrastada para uma escuridão, que depois se transformou em luz, que depois se transformou em... Randall. Eu queria me prender a ele, que me chamava: “Cathy, Cathy...” . Eu queria ir, mas eu ouvia alguém me chamar do outro lado, de outra dimensão. A voz da outra dimensão não era a de Randall, era uma voz conhecida, mas que eu não identificava.
Randall continuava a me chamar, e eu sentia meus pulmões sumirem, depois minha mente... Depois me entreguei completamente a ele, e tudo ficou escuro. Eu sentia que eu ia embora, eu estava morrendo. Isso era bom! Eu estava com Randall!
Eu morri, eu estou com Randall!
É o verdadeiro paraíso.
- Sra. Lees, você poderia ficar aqui comigo por um instante? - eu disse, em meio a várias tosses. - Me sinto tão só!
- Claro, Sra. Benton – ela sentou-se do meu lado.
- Missie, você já ouviu minha história? - ela respondeu que não, então eu disse-lhe: - Ah, como eu gostaria de repeti-la para você! Gosto tanto de poder lembrar do jeito que conheci Randall... meu Randall, antes de morrer. Pois acho que irei morrer no estado em que estou. Olhe só para mim!
- Vou confessar-lhe, senhora, que sempre tive demasiada curiosidade de conhecer sua história de amor com o Sr. Benton. Eu só tenho conhecimento de que os senhores vieram da França ocidental... Vocês sempre comentavam sobre isso.
- Sim, claro! - eu sorri, fraquinho, com as forças que ainda me restavam. - Eu contarei-a para você, então.
Me ajeitei debaixo de meus cobertores, sorri e comecei:
“Lembro-me de que eu era muito jovem. Uma criança ainda. A criança mais feliz e mais mimada daquele lado da França. De toda a França, se não duvidar. Eu estava de mãos dadas com meu pai, pulando e gritando. Era verão, e meus cachos louros brilhavam com o sol que vinha de trás dos morros. Foi quando avistei-o. Um menino, de mesma idade que eu, que tinha sete anos, caminhava com uma jovem senhora. Não achei que fosse sua mãe, e sim uma criada, pois ele tinha cabelos louros. Não eram tão bonitos quanto os meus, eram de um tom mais claro. E a mulher que se encontrava com ele tinha os cabelos de um tom castanho. Sorri e acenei para o garoto: ele podia virar meu amigo. Mas assim que avistou tal atitude, meu pai me puchou pelo punho, voltando pelo caminho que nós haviamos vindo.
Passei a viagem inteira para minha casa, gritando com meu pai e perguntando por que ele tinha feito aquilo. Seus grandes olhos verdes se esbugalharam para mim, e eu não ousei perguntar de novo.
Quando chegamos em casa, corri para a biblioteca, atrás de minha mãe que estava sentada em sua grande poltrona. Assim que me avistou, mamãe largou seu livro e me pegou em seu colo.
- Mamãe, eu e papai estávamos caminhando perto daqueles morros, quando eu avistei um menino. Fiquei surpresa com sua existência, pois moramos em um lugar tão isolado, pensei que tudo fosse de papai, até os morros! Então, surpresa, sorri e acenei para ele. Mas logo papai me censurou e tirou-me correndo dali. Com tal atitude, pensei que papai estava ficando louco!
Mamãe semisserrou seus grandes olhos azuis – meus olhos -, e disse-me:
- Meu amor, seu pai, sem sombra de dúvidas tinha motivos para tal atitude. Acalme-se, irei explicar-lhe – ela disse quando minha expressão ficou cheia de confusão. - Aquele menino é de uma família muito ruim, que odeia seu pai, a mim, e naturalmente a você. Então, você é obrigada a odiar-lhes também, assim como eles lhe odeiam.
- Mas mamãe, o garoto pareceu ficar tão espantado quanto eu ao vê-lo! - eu disse, insitindo.
- Meu amor, não se estresse com isso! Vá ler seus livros, conversar com seu pai... Mas não estresse-o com essa conversa desse menino.
Fui decepcionada sentar-me com Bobby, o cão da casa. Acariciei-o, refletindo sobre o garoto. Fui deitar-me, e desde esse dia, papai não me permitiu ir para perto dos morros. Anos se passaram. Sim, por anos papai não me deixou ir àqueles morros! Tudo por causa do menino de cachos dourados. Mas, mesmo assim, o menino não saía de minha mente.
Houve enfim, um dia, que meu pai havia saido para cuidar de negócios, enquanto minha mãe estava de cama, pois ela havia contraído uma doença muito rara. Então, chamei a criada para me acompanhar até o lugar. Eu já tinha doze anos, estava passando de criança feliz e mimada para adolescente feliz, mimada e rebelde.
- Vamos, vamos Zillah! - chamei a criada para ir para perto dos morros.
- Mas Srta. Cathy, seu pai disse-nos...
- Ah, papai está viajando a negócios desde ontem e só chegará amanhã, mamãe está de cama, ninguém vai descobrir se você não contar! E se você contar, direi que é mentira. Papai nunca duvidará de mim.
Zillah suspirou mais uma vez, e puxei-a em direção aos morros. Andamos as 4 milhas necessárias para chegar, até que lembrei-me do lugar em que eu e papai paramos. Era exatamente onde estávamos.
Subi na árvore que havia do nosso lado e Zillah sentou-se debaixo da sombra da árvore. Colhi umas amoras que estavam em meu alcance, mas sempre tomando cuidado para não sujar meu vestido caramelo-claro.
Eu avistei um menino, muito parecido com o garoto de minhas lembranças, só que mais alto, mais robusto, e mas bonito. Avistei também a mesma criada que havia visto cinco anos atrás. Sim, eu tinha memória de elefante! Desci rapidamente da árvore, com demasiada curiosidade para ficar esperando ele me avistar lá. Assim que desci, vi os olhos dele brilharem ao me ver. Não me incomodou a cobiça de seus olhos – eu sabia que era bonita, e sabia que todos os homens a partir de uma certa idade cobiçariam-me. 'Talvez por isso papai tenha me tirado de perto dele.', pensei. Mas agora não tinha volta. Eu já havia o visto, ele também. Era só questão de tempo para virarmos amigos, pois só existíamos nós dois com aquela idade ali. Na verdade, achava que existia só a minha família e a dele naquela região isolada da França.
Acenei para o menino, que acenou de volta. Ele correu até mim, beijou minha mão, como um bom cavalheiro faria e disse que era uma honra conhecer-me, mesmo não sabendo meu nome.
- Catherine Brontë, é meu nome. Tenho muita vontade de tomar conhecimento de qual seja seu nome também.
- Randall Benton. - ele sorriu. Era o sorriso mais lindo com covinhas que eu já havia visto. Depois do meu, é claro. - Desculpe-me a indelicadeza, mas ninca vi garota mais bonita. Pareces um lindo anjo de olhos azuis feito os céus, de onde deves ter vindo e de cabelo de cor de ouro!
Eu ri, meu delicado sonar de sinos. Claro que havia gostado de Randall, ele me chamara de lindo anjo dos céus.
- Bom, Randall, tu pareces cansado, então o que tu achas de ir até minha casa e tomar um chá, enquanto conversamos de frente para minha lareira?
- Oh, Catherine, eu bem que gostaria de...
- Por favor, por favor, chame-me de Cathy! Ah, eu não aceito não como resposta de ninguém. Então venhas, tu e a tua criada.
Puxei-o pelo braço, fazendo Randall se render diante de tanto esperneio para ele ir até a granja de meu pai. Quando chegamos lá, o fiz sentar-se de frente para a lareira enquando eu mandava Zillah preparar o chá. Emillie, a criada de Randall foi junto de Zillah. Assim, ficamos sozinhos, conversando e rindo. Nós dois estávamos muito surpresos por descobrir a existência um do outro. Enquanto ríamos do fato de nunca termos nos descoberto ali, a porta de entrada se abriu. Era meu pai. Eu sorri para ele, com minha xícara de chá, mostrando para ele como eu podia receber visitas sem parecer uma criança. E então, tomei um susto com a seguinte reação de meu pai: primeiro ele ficou paralisado. Randall se apresentou, comportando-se como um bom cavalheiro novamente, explicou o que havia acontecido e disse que não queria incomodar. Depois, papai arregalou os olhos e gritou para que o 'maldito menino' saísse de nossa casa naquele instante, junto de seu 'maldito nome'. Não tinha entendido o porque do nome de Randall ser maldito, mas papai continuou gritando e Randall pedia desculpas desesperadamente, dizendo que não queria incomodar, repetidas vezes. Randall gritou por Emillie, e eles se retiraram de minha casa. Quando papai bateu a porta com toda a força, eu berrei, com toda a potência que tinha dentro de mim. E depois, desatei-me a chorar e bater os pés no chão, desesperada. Papai ficou desesperado também, e veio me confortar, mas eu só fazia bater nele e dizer para ele sai já dali. Subi para o quarto que mamãe estava. Eu não me preocupava em acordar ela, até porque ela já devia ter acordado com toda aquela gritaria. Quando cheguei até meu destino, mamãe parecia convulsionar, revirando os olhos e se curvando sobre si mesma, sobre a enorme barriga que ela tinha. Ainda tomada de orgulho e agora de desespero (depois de mim mesma, mamãe era a pessoa que eu mais amava no mundo), chamei Zillah, não querendo chamar papai, pois ainda estava demasiado magoada com ele. Mas ele veio junto quando eu disse que se tratava de mamãe. Ele gritou para Zillah mandar chamar o médico. Por Deus, será que aquele homem só sabia gritar?! Depois de um tempo, o médico havia chegado, e então mandou-nos sair do quarto. Eu vi que papai precisava de consolo, pois ele era perdidamente apaixonado por mamãe. Ele que fosse com suas necessidades de consolo para bem longe de mim! Quem precisava de consolo de verdade ali era eu. Por isso, corri para o colo de Zillah e fui chorar lá. Passaram-se horas, e então nós vimos o Dr. Gerandy descer as escadas com um rolinho de cobertor marrom em seus braços. Bom, mamãe havia separado dois: marrom se fosse menino, vermelho se fosse uma menina. Então era um menino, afinal! Então o médico disse que mamãe havia morrido. Todos pomos-nos a chorar e lamentar, mas logo voamos para cima de meu irmãozinho, e então papai clamou:
- Ah, o meu pequenino Bartolomeu!
- Bartolo o quê? - eu disse, atrevida. Havia detestado o nome. Na verdade, se ele escolhesse o nome mais lindo que já havia existido, eu ia achar horrível. Quando estava brigada com alguém, punha-me a discordar de tudo o que fosse a favor daquela pessoa.
- Bartolomeu, minha princesa. O nome dele será Bartolomeu Brontë.
- Não será, não. Se eu sou uma princesa, meu irmão tem de ser um príncipe. E para ser príncipe de verdade, ele tem de ter um nome de príncipe. Bartolo-Não-Sei-O-Quê tá mais pra nome de cachorro! Além do mais, mamãe odiaria esse tal nome, e amaria o nome que eu escolhi. Por isso, o nome de meu príncipe será Elwin. Elwin Brontë.
Ninguém mais discutiu. Eu sempre dava a última palavra naquela casa.
Naquela mesma noite, eu e papai nos reconciliamos depois de colocar Elwin na cama e ido nos despedir de mamãe. Eu perguntei para ele o que ele tinha contra Randall, se Randall era tão bom cavalheiro. E então ele me respondeu:
- Minha flor, há muitos anos atrás, antes de você nascer... Bem, antes de eu nascer até, meu pai ficou viciado em jogo. Sim, ele era um beberrão, jogava e apostava todos os seus bens. Houve um dia que ele apostou várias de suas terras. Mamãe já era casada com ele, e ele era dono de tudo isso – papai abriu a janela para mim, e apontou para os morros -, mas ele apostou e o pai do pai de Randall, que se dizia amigo de meu pai, ganhou uma de nossas granjas e mais de cinquenta por cento das nossas terras. Era para isso tudo ser meu, seu, de Elwin! Mas por culpa de Michael Benton, eu só tenho essa granja. Foi só isso que sobrou para mim.
- Mas papai, Randall nada tem com isso! Ele é tão bom, me elogia...
- Mas eu não quero que você fique perto de um garoto com nome de traidor! - e o ódio de papai era tanto, que eu não discuti mais.
No dia seguinte, foi o funeral de minha mãe. Eu não fui. Fiquei em casa, cuidando de meu pequeno príncipe Elwin. Cuidando de Elwin, e chorando.
Os anos foram se passando, Elwin crescendo, eu crescendo, papai envelhecendo, Randall crescendo e se tornando o rapaz mais lindo que eu já havia visto. Sim, eu continuei a vê-lo as escondidas, me encontrava com ele, mandava o rapaz que entregava leite entregar cartas para ele, ele as respondia... E foi assim que fui me apaixonando por Randall. Ele pegava na minha mão, dizia para mim que eu era linda e que ele era a pessoa mais feliz do mundo por me ter com ele.
Houve um dia em que papai descobriu que nós nos encontrávamos. Zillah, aquela bocuda, deixou escapar que o rapaz estava crescendo e ficando bonito, que era uma honra vê-loquase todos os dias na frente de papai. Papai perguntou-me se esse rapaz era Randall, eu tentei desmentir, mas papai ameaçou Zillah de mandá-la embora, então a mulher falou que era Randall. Desde esse dia ficou mais difícil encontrar minha vida, meu mundo.
- Você sabe o que está fazendo comigo? Sabe? - eu gritei para meu pai quando ele disse que ia me trancar em meu quarto para sempre.
- Sim, Catherine, estou prevenindo-a de casar-se com esse traidor!
- Ele não é traidor! Se seu pai idiota era um beberrão viciado em jogo, o problema não é meu, nem de Randall! Vá para o Diabo com esse seu ódio desnecessário.
- Agora sim, você nunca, nunca mais sairá daquele quarto!
Enquanto discutíamos, Elwin chorava no colo de Zillah. Ele ainda era um bebê de dois anos. Os gritos o incomodavam. E eu não ligava para isso.
- CALE A BOCA, ELWIN! - eu sentia que estava vermelha feito um tomate. Minha pele branquinha não podia se deixar levar por nenhum estresse, nenhuma lágrima que já ficava da cor de um morango. - Eu irei sair sim! Eu não suportarei viver sem Randall, ele é minha vida, minha alma! Ele que me faz respirar, ele que me faz aguentar viver, sem ele eu não vou conseguir aguentar viver um dia, uma hora sequer! Ele me adora, ele beija o chão que eu piso, e eu gosto disso. O amor que você sentia, sente por minha mãe, nada é comparado ao que eu sinto por Randall. Se o mundo acabasse, se você e Elwin morressem mas ele continuasse aqui comigo, eu seria a garota mais feliz do mundo! Se você quer que eu viva, deixe-me ir com Randall, eu juro que nunca mais atormentarei sua vida, você nunca mais me verá, mas deixe-me ir com Randall. - eu falava aquilo, porque Randall havia falado na possibilidade de eu fugir com ele, de nos casarmos bem longe dali... Era o verdadeiro paraíso.
Os olhos de meu pai se encheram de lágrimas.
- Você é só uma menina, você só tem quatorze anos Cathy! Você ainda é a minha princesinha!
- Não, não sou não. Eu quero ser independente, quero casar-me com Randall, quero ser Catherine Benton!
Quando eu disse isso, meu pai bateu-me na face, e eu gritei e chorei como um bebê. Corri para meu quarto, me tranquei. Eu não fugiria àquela noite, afinal. Mas um dia eu fugiria. E seria feliz, de verdade.
Chorei, chorei, até que dormi. Nos dias que se passaram, ficou mais difícil de ver meu Randall, pois a segurança de meu pai havia aumentado. Eu poderia pular a janela e escalar até o chão, mas nunca arriscaria meus lindos vestidos e meu lindo penteado para descer até lá.
Minha vida estava um verdadeiro inferno! Eu só conseguia ver Randall quando ele conseguia fugir para me ver, de madrugada, pois a segurança de seus pais em relação a ele havia aumentado também. Como eu queria mamãe aqui, ela saberia como me ajudar. Mamãe sempre me ajudava! Por que ela se foi? Mulher egoísta! Por que motivo ela se foi, no momento em que eu mais precisaria dela? Ela estava em paz lá, enquanto eu sofria aqui! Era para ela ter lutado e ficado, mesmo com toda a dor do mundo. Ela deveria ter ficado para cuidar de mim. Meu pai agora me odiava, já que eu planejava fugir com Randall.
No meu aniversário de quinze anos, chorei com saudades de minha mãe. Randall veio me ver. Perguntou se eu fugiria com ele. Mordi o lábio. Eu não sabia o que fazer!
- Mas, Randall... o meu vestido! - eu disse, quando estava prestes a descer de minha janela.
- Calma, meu amor, eu ajudo você.
Randall me ajudou a descer da janela e a subir no cavalo. Eram cinco da manhã do dia do meu aniversário. Era maio, e fazia frio, então peguei um casaco branco, para combinar com meu vestido e meu chapéu. Cavalgamos durante muito tempo, e eu estava começando a ficar cansada. Randall me pedia para ter calma. Houve uma hora em que não aguentei mais, e que paramos no meio do nada, em uma estradinha de terra que cortava a floresta pela qual nós viajávamos. Enquanto estava andando de um lado para o outro, perguntando para Randall se eu estava bonita, preocupada com minha aparência, ouvi cavalgados. Eles aumentavam, e então comecei a ficar com medo. Randall tirou de algum lugar uma espécie de arma pontuda e ficou apontando para o lugar de onde o som parecia sair. Ouvi um rinchar de cavalo, e logo o reconheci. Era o rinchar do cavalo de papai.
- Randall...! - foi só o que consegui gritar.
- Devolva-a! Devolva Cathy a mim! - papai gritava, apontando uma espingarda para minha vida. Para Randall.
- Não! - eu gritei. - Eu quero ir com ele. Eu vou com ele! - papai apontou com mais precisão a espingarda para Randall, que estava bufando, paralisado ao meu lado. - Não mate-o, não machuque-o! Se você machucá-lo, papai, você estará machucando a mim! Se você matá-lo, você estará matando a mim! Não deu para perceber que eu vivo por ele? Ele é meu, e ninguém pode tirar a vida de nada meu!
Papai parou, as lágrimas escorrendo por seu rosto. Eu podia sentir que eu também chorava. Randall apertou minha mão, e vendo tal movimento, papai atirou. Quando vi que ele ia atirar, joguei Randall no chão, e me joguei em cima dele. Eu não ia ficar parada ali para receber um tiro. Eu não ia morrer. Não sem Randall. Se eu morresse, seria com ele. Se eu vivesse, ia ser junto dele. O tiro atingiu o cavalo de Randall, e o animal praticamente gritou de dor, e saiu correndo para algum lugar por aí. Meu pai suspirou. Eu me levantei, furiosa e cuspi as palavras na cara dele:
- Eu o odeio! Você ia matá-lo! Você ia matar a mim! Assassino! Eu o odeio! Aaargh! Que você morra, que você morra!
Papai abaixou a cabeça, e trotou pelo caminho que ele tinha vindo, voltando para minha antiga casa. Comecei a chorar. Por que eu não podia ter os dois ao mesmo tempo? Randall e meu pai? Mas se era para escolher, eu escolhia Randall.
Nós conseguimos uma charrete para transportar-nos. Perguntei para Randall para onde íamos, e ele me disse que seu pai tinha uma casinha do outro lado da França. Perguntei para ele se tinha dinheiro o suficiente para nós dois, e ele desatou o nó de uma das suas sacolas para eu poder ver. Viajamos durante três dias, e finalmente chegamos. Era uma casinha linda. Com dois quartos, uma sala, uma cozinha. Mas era linda. Já tinha uma criada na casa. Você, Missie Lees. Randall pensara em tudo. Bem, o resto você já sabe. Nós vivemos felizes aqui durante anos. Acho que eu não posso ter filhos, mas nem com isso, Randall me deixou. Randall, depois de um tempo, pegou aquela febre estranha, e morreu... Foi quando eu perdi meu chão, e essa tal de depressão me pegou...”
Eu ri, diante da ironia de quando ele morresse, eu morreria junto. Eu tinha morrido. Por dentro. E estava morrendo fisicamente agora. Tossi, e tossi. Me sentia sendo arrastada para uma escuridão, que depois se transformou em luz, que depois se transformou em... Randall. Eu queria me prender a ele, que me chamava: “Cathy, Cathy...” . Eu queria ir, mas eu ouvia alguém me chamar do outro lado, de outra dimensão. A voz da outra dimensão não era a de Randall, era uma voz conhecida, mas que eu não identificava.
Randall continuava a me chamar, e eu sentia meus pulmões sumirem, depois minha mente... Depois me entreguei completamente a ele, e tudo ficou escuro. Eu sentia que eu ia embora, eu estava morrendo. Isso era bom! Eu estava com Randall!
Eu morri, eu estou com Randall!
É o verdadeiro paraíso.
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